Revisão sistemática que sintetizou achados de revisões sistemáticas da literatura examinando a segurança e eficácia dos canabinoides sintéticos e à base de plantas na esclerose múltipla. Desfechos de incapacidade e progressão de incapacidade dos pacientes, dor, espasticidade, função da bexiga, tremor / ataxia, qualidade de vida e efeitos adversos foram avaliados. Revisões de estudos experimentais e epidemiológicos publicadas até o final 2016 foram incluídas. Onze revisões sistemáticas elegíveis foram examinadas, fornecendo dados de 32 estudos, incluindo 10 ensaios clínicos randomizados de qualidade moderada à alta. Cinco revisões concluíram haver evidências suficientes de que os canabinoides podem ser eficazes para os sintomas de dor e/ou espasticidade na esclerose múltipla. Poucas revisões relataram conclusões para outros sintomas, como algumas evidências que mostraram efeitos positivos de THC e THC:CBD nos sintomas associados à função da bexiga. A maioria das revisões identificou eventos adversos semelhantes para os canabinoides, os quais incluíram tontura, boca seca, euforia, diarreia e dificuldade de concentração. Esses eventos adversos foram frequentemente descritos como “leves” a “moderados”.
Estudo clínico aberto que avaliou a segurança, tolerabilidade, intervalo de dose e eficácia de dois extratos de cannabis sativa em pacientes com esclerose múltipla avançada e sintomas do trato urinário inferior. Os pacientes receberam extratos contendo delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD) (2,5 mg de cada por spray) por 8 semanas, seguido de THC apenas (2,5 mg por spray) por mais 8 semanas, e depois por um uma extensão de longo prazo. Dados de 15 participantes foram avaliados. A urgência urinária, o número e o volume dos episódios de incontinência e a frequência de noctúria diminuíram significativamente após o tratamento (p <0,05). Contudo, o total diário de urina cateterizado e o peso das fraldas por incontinência urinária também diminuíram significativamente em ambos os extratos. A autoavaliação dos pacientes quanto à dor, espasticidade e qualidade do sono melhorou significativamente com o tratamento (p <0,05), sendo a melhora da dor mantida por uma mediana de 35 semanas. Poucos efeitos adversos significativos foram observados.
Meta-análise que resumiu dados de eficácia clínica e segurança de medicamentos à base de cannabis para o tratamento da dor neuropática e da dor na esclerose múltipla. Sete ensaios clínicos randomizados (ECR) foram avaliados: 6 artigos aceitos e 1 relatório de ECR, envolvendo um total de 298 pacientes (222 tratados e 76 placebo). Quatro estudos avaliaram o Sativex® (spray bucal de canabidiol / delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC)), cinco avaliaram o canabidiol e três o dronabinol. Os dados dos estudos foram combinados e analisados em relação às diferenças de pontuação de dor do início ao final do período do estudo. O spray bucal de canabidiol/THC diminuiu a dor em 1,7 ± 0,7 pontos (p = 0,018); o canabidiol em 1,5 ± 0,7 (p = 0,044); e o dronabinol em 1,5 ± 0,6 (p = 0,013). Os escores de dor nos pacientes que receberam placebo não foram alterados em relação ao início do estudo (0,8 ± 0,4 pontos, p = 0,023). Os canabinoides foram superiores ao placebo em 0,8 ± 0,3 pontos (p = 0,029). Tontura foi o evento adverso mais comumente observado, ocorrendo em 39 ± 16% dos pacientes tratados com spray bucal de canabidiol/THC, 32,5 ± 16% do total de pacientes recebendo canabinoides, e 10 ± 4% dos pacientes recebendo placebo. A descontinuação do tratamento devido a eventos adversos ocorreu em 5,5% dos pacientes que receberam canabinoides e 5,1% dos que receberam placebo.
Acompanhamento de longo prazo do estudo CAMS para testar a eficácia e segurança do uso de canabinoides na esclerose múltipla. 630 pacientes com esclerose múltipla estável com espasticidade muscular foram randomizados para receber delta-9-tetrahidrocanabinol oral (THC), extrato de cannabis ou placebo no estudo principal CAMS, o qual durou 15 semanas. Após o estudo principal, os pacientes continuaram com a medicação (duplo-cego) por até 12 meses. Dados dos 80% de pacientes que foram acompanhados por 12 meses mostraram evidências de um efeito benéfico do tratamento na espasticidade muscular medida pela mudança na pontuação da escala de Ashworth do início do estudo até 12 meses (média de redução com THC: 1,82; extrato de cannabis: 0,10; e placebo: -0,23 (p = 0,01)). O estudo também mostrou evidências sugestivas de efeito do tratamento com THC no Índice de Mobilidade de Rivermead. Em geral, a percepção dos pacientes apontou o uso de canabinoides como útil no tratamento da doença, e o perfil de tolerabilidade dos tratamentos foi aceitável.
Ensaio clínico randomizado controlado por placebo que avaliou o efeito dos canabinoides na espasticidade e outros sintomas relacionados à esclerose múltipla (estudo CAMS). 630 participantes com esclerose múltipla estável e espasticidade muscular foram tratados com extrato de cannabis oral (n = 211), delta-9-tetrahidrocanabinol (THC; n = 206) ou placebo (n = 213). Os resultados mostraram que o tratamento com canabinoides por 13 semanas não gerou efeito benéfico na espasticidade avaliada pela Escala de Ashworth (p = 0,40). No entanto, foi observado um efeito do tratamento na espasticidade e dor relatadas pelo paciente (p = 0,003). Uma melhora na espasticidade foi relatada por 61% (n = 121), 60% (n = 108) e 46% (n = 91) dos participantes que receberam extrato de cannabis, THC e placebo, respectivamente. Além disso, houve um efeito significativo do tratamento na mudança do tempo de caminhada dos pacientes (p = 0,015) avaliada do início do estudo até a visita 7. A mediana de tempo gasto para caminhar 10 metros foi reduzida em 12% nos pacientes recebendo THC, em comparação com uma redução de 4% com extrato de cannabis e 4% de placebo. O número de eventos adversos graves foi semelhante entre os tratamentos, sendo um pouco maior com placebo. Dentre os eventos adversos não graves, episódios de tontura ou desmaio e de boca seca foram mais frequentes nos grupos recebendo tratamento ativo.